25 de fevereiro de 2011

De onde vêm as palavras (22): Surdo como uma porta


As paredes têm ouvidos, mas as portas são surdas. Os antigos romanos faziam suas oferendas à deusa Porta, suplicando-lhe favores, beijando-a, molhando-a com lágrimas, perfumando-a e enfeitando-a com flores. Tinha também o costume de gritar diante de uma porta fechada, dirigindo-lhe injúrias para desabafar, o que faziam também à própria deusa quando não tinham seus pedidos atendidos.

O escritor romano Feustus registra o costume, denominado occentare ostium (injuriar a entrada, a porta), que vigorou ainda por vários séculos durante a era cristã.

No Brasil pode ter havido influência das cancelas e portões cujos gonzos emperravam e impediam o som das portas, que era o sinal de que estavam funcionando bem. Porta surda era aquela que não podia ser aberta, a não ser com muita dificuldade.

O poeta brasileiro Alberto de Oliveira atribuiu sentimentos e inteligência às portas no soneto A vingança da porta; os ingleses acham que surda é apenas a maçaneta; e os franceses, sempre preocupados com a culinária, dizem "surdo como uma panela".

Fonte: De onde vêm as palavras II

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