6 de agosto de 2010
Posted by Marcia Moreira on sexta-feira, agosto 06, 2010 with No comments
O garoto de 8 anos veste seu pijaminha como de praxe e vai dar um beijo de boa noite ao pai que estava no quartinho do estudos tocando violão. Desta vez, porém, o menino se vê tomado por uma curiosidade e lança uma pergunta.
- Pai, eu sempre vejo o senhor tocando violão aqui nesse quarto, se eu aprender violão posso vir pra cá também?
- Meu filho, você sempre pode vir pra cá quando quiser, mesmo que não queira aprender nem ouvir violão.
- Eu só não consigo entender direito essas músicas, até hoje só vi o senhor tocando.
- Essas músicas falam muito sobre quem eu sou, filho.
- Quer dizer que o senhor é diferente de todo mundo?
- Sou, do mesmo jeito que você também é diferente de todo mundo.
O menino vai pra cama e carrega consigo o pensamento sobre tocar violão e ser diferente para a escola no dia seguinte. À noite, pergunta novamente ao pai:
- Pai, se eu tocar violão vou ser diferente de todo mundo?
- Filho, você já é único e diferente de todo mundo.
- Mesmo sem tocar violão e ouvir essas músicas?
- Sim, você não precisa de nada disso pra ser quem você é.
- Pai, o senhor toca pra ser diferente?
- Não filho, essas músicas me ajudam a ser mais humano e parecido com outras pessoas.
- Como assim?
O pai aponta para alguns livros e partituras com nomes e imagens de compositores e diz ao filho:
- Essas pessoas que fizeram essas músicas tinham dentro delas coisas que eu também tenho. Isso me ajuda a perceber que tem outras pessoas no mundo que também tem esses mesmos sentimentos.
- Ah, quer dizer que o senhor usa a música pra conversar com esse povo do mesmo jeito que a gente reza pra falar com Papai do Céu mesmo sem ver ele?
- Sim, filho, é algo bem parecido com isso, só que a gente não pede nada a eles, só conversa e sente as coisas mesmo.
- Então eu quero aprender violão pra também falar com eles e com o senhor.
O pai, emocionado, põe o filho sentado numa cadeira e coloca o violão gigantesco nas mãozinhas da criança. Pega o dedinho indicador e faz com que ele marque duas notinhas na 1ª corda, um mi solto e um fá sustenido. O garotinho sente dificuldades com as notas e pergunta:
- O que foi que eu falei com essas notas?
- Você disse "oi" pro mundo da música.
- Alguém ouviu além do senhor?
- Sim, com certeza muita gente ouviu.
- E todos eles entenderam?
- Entenderam e ficaram felizes.
- Como é que eu vou saber o que eu tô dizendo e se eles tão entendendo?
- Sabe sua irmãzinha de 6 meses? Ela diz gugu dadá e a gente entende. E a gente fala de volta com ela na nossa língua e ela entende.
- Mas a gente tá vendo ela.
- Lembra que você falou de Papai do Céu? Você fala, ele escuta. E você sabe que ele escutou porque você se sente bem por dentro. É assim que funciona.
- Agora eu acho que eu entendi.
A partir daquele dia, pai e filho passaram a tocar juntos e falar sobre música sempre que possível. O homem já maduro se viu encantado de voltar a aprender música a partir do zero, de ver as coisas com os olhos de uma criança, enquanto o meninote ficava fascinado e curioso com as coisas que o paizão ensinava. Sem se dar conta, ambos, cada qual à sua maneira, se tornaram heróis da música um para o outro.
Fonte: violão.org
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