Texto de Artur da Távola:
Meus artigos de anteontem e ontem vieram de telex, enviados da Bahia. No de Gal Costa, [...] para não repetir a palavra Gal, Gal, Gal, fui colocando assim: “a prima de Marina”, “a sobrinha de Tia Vivi” etc. Tudo bem, tudo certo, são seres reais, da família da cantora, pessoas adoráveis a quem quis homenagear. Mas eis que ao me referir a uma figura formidável, a da mãe da cantora, eu coloquei a “filha da Mariá”. Mariá, com acento agudo no a final, pois assim é chamada a doce mãe de Gal.
Mas um texto que vem por telex passa por vários operadores: o do dito telex, o do copidesque, o de quem compõe a matéria, e nessas andanças todas, o acentozinho de Mariá caiu. Gal saiu como “filha de Maria”, tradicional organização católica cheia de méritos, mas à qual propriamente a cantora não pertence. O mais divertido, porém, é que o “filha de Maria” saiu numa frase em que eu falava da sensualidade da cantora. Deu um melê completo. A frase saiu assim: “Nessas declarações ela, filha de Maria, fala com o corpo uma linguagem não verbal, capaz dos mais excitantes discursos silenciosos da música popular brasileira”.
E depois de chamar a Gal de “filha de Maria” excitante, pior, mesmo, foi, ainda nesse artigo, sair grafado “catar-se em vez de “catarse”. Ora se eu ia dizer que a Elis Regina fica no palco a “catar-se”...
O Globo. 12.03.1981. In: ARAÚJO, Emanuel . A construção do livro. São Paulo: Lexikon, UNESP, 2008, p. 365.
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