17 de abril de 2013

Escrever certo pega bem


 
“Eu posso ou não posso me comunicar bem sem eliminar tremas e acentos propostos pela Academia Brasileira de Letras?”

A resposta: pode. A ortografia não é condição indispensável para a comunicação eficiente. Se alguém escreve casa com z, cachorro com x, coração sem til e bom-dia sem hífen, o leitor estranhará a grafia, mas entenderá o recado. Prova definitiva é a língua abreviadíssima usada nos chats da internet. Lá, porque vira pq; você, vc; beijo, bj; beijinho, bjn; obrigado, obg. Muita gente não gosta do que vê, mas entende.

De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.

Leram a mensagem numa boa? Melhor: entenderam tudo? Se a escrita correta não visa à comunicação, por que preocupar-se com a ortografia? A resposta é uma só. Pra viver em sociedade, nós firmamos pactos. Combinamos andar vestidos em público. Combinamos não arrotar à mesa. Combinamos não cuspir no chão. Combinamos dizer bom-dia quando encontramos pessoas pela manhã. Combinamos ceder o assento aos idosos nos transportes coletivos.

Combinamos, também, escrever como manda o dicionário. O pai-de-todos-nós, com base em critérios etimológicos ou fonéticos, diz que hospital se escreve com h; pesquisa, com s; exceção, com ç. A razão: o português é língua de cultura. Como todas as línguas de cultura, tem a grafia oficial. Os lusófonos precisam conhecê-la. Escrever certo pega bem. Prova que a pessoa tem familiaridade com a língua escrita.

A ortografia é convenção como tantas outras. Aprende-se aos poucos. À medida que temos contato com a escrita, cresce a intimidade como esses, zês, cedilhas & cia. letrada. A criança em fase de albabetização tropeça em letras e acentos. É natural. Com o tempo, domina o assunto. Por isso, quanto maior a escolaridade da pessoa, menor a tolerância social ao erro.

É isso. Quem anda pelado na rua vai pra cadeia. Quem arrota à mesa em público acaba a refeição sozinho. Quem cospe no chão é tachado de mal-educado. Quem escreve errado se apresenta como pessoa de poucas letras. Perde vaga na universidade. Perde promoção no trabalho. Perde pontos no concurso.

Dad Squarisi, jornalista e escritora brasileira de origem libanesa. Texto adaptado.

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