“Eu posso ou não posso me
comunicar bem sem eliminar tremas e acentos propostos pela Academia Brasileira
de Letras?”
A resposta: pode. A
ortografia não é condição indispensável para a comunicação eficiente. Se alguém
escreve casa com z, cachorro com x, coração sem til e bom-dia sem hífen, o
leitor estranhará a grafia, mas entenderá o recado. Prova definitiva é a língua
abreviadíssima usada nos chats da internet. Lá, porque vira pq; você, vc;
beijo, bj; beijinho, bjn; obrigado, obg. Muita gente não gosta do que vê, mas
entende.
De aorcdo com uma
peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de
uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras
etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe
ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa
cmoo um tdoo.
Leram a mensagem numa
boa? Melhor: entenderam tudo? Se a escrita correta não visa à comunicação, por
que preocupar-se com a ortografia? A resposta é uma só. Pra viver em sociedade,
nós firmamos pactos. Combinamos andar vestidos em público. Combinamos não
arrotar à mesa. Combinamos não cuspir no chão. Combinamos dizer bom-dia quando
encontramos pessoas pela manhã. Combinamos ceder o assento aos idosos nos
transportes coletivos.
Combinamos, também, escrever como manda o dicionário.
O pai-de-todos-nós, com base em critérios etimológicos ou fonéticos, diz que
hospital se escreve com h; pesquisa, com s; exceção, com ç. A razão: o
português é língua de cultura. Como todas as línguas de cultura, tem a grafia
oficial. Os lusófonos precisam conhecê-la. Escrever certo pega bem. Prova que a
pessoa tem familiaridade com a língua escrita.
A ortografia é convenção como tantas outras.
Aprende-se aos poucos. À medida que temos contato com a escrita, cresce a
intimidade como esses, zês, cedilhas & cia. letrada. A criança em fase de albabetização
tropeça em letras e acentos. É natural. Com o tempo, domina o assunto. Por
isso, quanto maior a escolaridade da pessoa, menor a tolerância social ao erro.
É isso. Quem anda pelado na rua vai pra cadeia. Quem
arrota à mesa em público acaba a refeição sozinho. Quem cospe no chão é tachado
de mal-educado. Quem escreve errado se apresenta como pessoa de poucas letras.
Perde vaga na universidade. Perde promoção no trabalho. Perde pontos no
concurso.
Dad Squarisi, jornalista e escritora brasileira de origem
libanesa. Texto adaptado.
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